quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O VALOR DA BIODIVERSIDADE

“Biodiversidade ou diversidade biológica é a diversidade da natureza viva. Desde 1986, o termo e conceito têm adquirido largo uso entre biólogos, ambientalistas, líderes políticos e cidadãos informados no mundo todo. Este uso coincidiu com o aumento da preocupação com a extinção, observado nas últimas décadas do Século XX.
Pode ser definida como a variedade e a variabilidade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. A biodiversidade varia com as diferentes regiões ecológicas, sendo maior nas regiões tropicais do que nos climas temperados.
Refere-se à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos.”



Mas porque conservar a biodiversidade? Qual o valor da biodiversidade?

Existem vários valores para se justificar a protecção da biodiversidade.






A Biodiversidade tem um valor intrínseco que merece ser protegido, independentemente do seu valor para os seres humanos. Quem se baseia nesta teoria considera que a Natureza é concebida como valor supremo (Ecologia profunda) e todos tem direito à sua existência (indivíduos e espécies), independentemente do valor que o Homem lhes atribua, a biodiversidade deverá ser encarada como uma mais valia para o Homem.

Este argumento centra-se na conservação de todas as espécies, mesmo sendo espécies ecologicamente equivalentes.

No outro extremo encontra-se a tradicional percepção que o ser humano é dono e senhor (dominador) da Natureza e que esta passa a ser propriedade privada de alguns homens
Deste modo consideram-se então duas categorias na importância de proteger a biodiversidade. O ponto de vista intrínseco da protecção das espécies e o ponto de vista económico de onde pode haver rendimento (ganho para o ser humano, perspectiva antropocêntrica).


Ambos os pontos de vista (intrínseco e antropocêntrico) não precisam de ser contraditórios, uma vez que servem o mesmo objectivo final. No entanto, eles muitas vezes são considerados incompatíveis, porque resultam de duas filosofias muito diferentes: um que vê a natureza como intrinsecamente valiosa e um que a considera economicamente valiosa.


Ponto de vista intrínseco

A thing is right when it tends to preserve the integrity, stability and beauty os the biotic community. It is wrong when it tends to otherwise
- Aldo Leopold, A Sand County Almanac



Ponto de vista antropocêntrico

The natural environmental “harbours chemicals,fibers, flesh, resins, enzymes, genes and whatnot that we can manipulate, extract, breed, purify and prime into products that will cure our diseases, feed our hungry and line our pockets.
- Nicholas Tackacs, The Idea of Biodiversity



Perante tão diversificadas opiniões, e de um impraticável entendimento ideológico por parte dos homens, a melhor solução encontrada, é atribuir um valor económico com base no que as pessoas (opinião pública) estão dispostas a pagar para a preservação de determinada espécie ou paisagem natural. Ainda que demasiado antropocêntrica, este é um passo em frente na conservação da Natureza e da biodiversidade, visto haver uma crescente preocupação social ligada ao ambiente.


“Actualmente, o valor da biodiversidade não reside apenas na beleza de uma paisagem ou na manutenção de espécies em vias de extinção, mas no facto da nossa sobrevivência neste planeta depender da sua conservação. Este deve ser um objectivo a alcançar pela sociedade e não simplesmente a quimera de alguns sonhadores” (Pereira, 2004).






A dificuldade na atribuição de valor económico aos bens e serviços gerados pela diversidade biológica depende do tipo de valores em questão. Assim, estes têm sido divididos, por autores como Young e Barbier, em valores de uso e valores de não uso.


Entre os valores de uso, os bens e serviços podem ter um valor resultante do seu uso directo – madeira, caça, turismo, da sua função ecológica – fotossíntese, protecção contra a erosão, ou por serem um valor de opção. Por valor de opção entende-se os benefícios ainda desconhecidos da biodiversidade, como a descoberta de novas substâncias para o tratamento de doenças.
Os valores de não uso separam-se entre valores de existência, como é a satisfação por sabermos que o Lince-ibérico ainda existe nas serras do Sul de Portugal, ou o valor de doação, relacionado com a possibilidade de podermos transmitir às gerações vindouras o mesmo património que nos foi legado.


Numa tentativa de ultrapassar esta dificuldade vários métodos têm sido enunciados para estimar os valores de não uso e de uso. Um deles é o do valor de substituição. Por exemplo, sabendo que os pinhais da zona litoral centro de Portugal asseguram a fixação das areias e protegem dos ventos salgados, este método propõe que o valor a encontrar seja dado pelo que teríamos de despender na construção de uma estrutura que oferecesse os mesmos benefícios. Outro dos métodos utilizados consiste em questionar o público sobre o valor que estaria disposto a pagar por um determinado recurso - método do valor de contingência.

Existem muitos mais factores que demonstram a necessidade de preservação da biodiversidade:
- A interdependência entre as espécies – a perda de uma espécie pode ter consequências inimagináveis sobre outros membros da comunidade; é o caso da ave Dodo, extinta no séc. XVIII, que se alimentava de sementes de uma árvore, a "Calvária", actualmente também em risco de desaparecer. A semente desta árvore só conseguia germinar depois do Dodo se alimentar do seu fruto e de "gastar" a casca grossa da semente. Sá assim ela poderia germinar e manter a espécie. Hoje existem apenas 13 árvores de "Calvária" no mundo;
- O pouco estudo existente sobre todos os ecosistemas e habitats: só 13% de aproximadamente 14 milhões de espécies que habitam o planeta estão descritos pelos cientistas; a extinção de espécies poderá eliminar hipóteses de encontrar cura para algumas doenças ou de pistas científicas importantes relativas à história da evolução e da origem da vida;
- A biodiversidade nos oceanos é essencial para a grande produção de oxigénio e consumo de dióxido de carbono e é fonte de proteína animal para a população humana;
- A biodiversidade fornece muitas vezes soluções para os actuais problemas de poluição e doenças. A medicina tradicional constitui a base dos cuidados médicos primários para mais de 80% das pessoas em países em desenvolvimento, estando a conquistar também os países mais desenvolvidos.

“A espécie humana depende da biodiversidade para a sua própria sobrevivência, estimando-se que, pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos”.( Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Setembro 2001.)

Cada um de nós depende da biodiversidade, de alguma forma - o ar que respiramos, a água que bebemos, o alimento que comemos, os medicamentos que usamos, o trabalho que fazemos – cada simples dia!
















Fontes bibliográficas:

http://www.cbd.int/2010/importance/, Nov, 2009
http://www.confagri.pt/Ambiente/AreasTematicas/ConsNatureza/TextoSintese/Antecedentes/, Nov, 2009
http://redpath-museum.mcgill.ca/Qbp/2.About%20Biodiversity/importance.html, Nov, 2009
http://www.ecology.org/biod/value/index.html, Nov, 2009
http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=7&cid=1217&bl=1&viewall=true#Go_1, Nov, 2009
Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Setembro 2001




Imagens:
Marta Palhim

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